As sete lágrimas de pai
preto
(W.W. MATTA E SILVA)
Foi uma noite estranha aquela
noite...
Estranhas vibrações penetravam
Em meu ser e me faziam
ansiar
Por algo que, pouco a pouco,
se definia...
Era um “quê” desconhecido
Mas senti-o como se
estivesse
Em comunhão com minha alma
E externava a sensação
De um silencioso pranto...
Quem do mundo do astral,
Emocionava assim meu pobre
“Eu”?
Não soube, até adormecer...
e “sonhar”
Vi meu “duplo”
transportar-se
Atraído por cânticos que
falavam
De Aruanda, Estrela guia e Zâmbi..
/Eram vozes da Umbanda,
Dessa Umbanda de todos nós
Que chamava seus filhos de
fé...
E fui visitando cabanas e
tendas,
Onde multidões desfilavam,
mas
Surpreso ficava ante a
“visão”
Que em cada um eu “via”...
Em um canto, pitando, um
triste Pai-Preto chorava...
Os seus “olhos” molhados
esquisitas lágrimas desciam e, não sei por que, com tê-las;
Foram sete.
Na incontida vontade de
saber,
Aproximei-me e interroguei-o;
Fala Pai-Preto, dize por que
externas tão visível dor?
E Ele, suave, respondeu:
“Estás vendo esta multidão
que entra e sai”?
Das lágrimas contadas,
Distribuídas estão a cada
uma delas...”.
“A primeira eu a dei aos
indiferentes”;
Aos que aqui vem em busca de
distração,
Na curiosidade de ver, de
bisbilhotar...
Não crêem, nem descrêem... “Sabem
conceber...”
“A outra, dei aos duvidosos,
aos que acreditam desareditando”...
Vivem na expectativa de um
“milagre” que os
façam “alcançar” aquilo que
seus
“Próprios merecimentos
negam...”.
“E, outra mais, que
distribui aos maus”.
Aqueles que somente procuram
a umbanda
Em busca da vingança,
“Aos que desejam prejudicar
seus semelhantes...”.
“Pensam que nós, os guias,
somos”.
Veículos de suas mazelas,
De sua paixões e temos
obrigação
“De fazer o que pedem...”.
“Pobres almas que na bruma
ainda não saíram...”.
E assim vai lembrando bem:
“A quinta lágrima foi
diretamente para”.
Os frios e calculistas.
“Não crêem e nem descrêem.”
“Sabem que existe uma força
e procuram”.
“Se beneficiar dela de
qualquer forma.”
“Não conhecem a palavra
gratidão”.
Negarão amanhã ate que
conheceram
Uma casa de Umbanda...
Chegam suaves, têm o riso e
o elogio.
A flor dos lábios...
“São fáceis, muito
fáceis...”.
“Se olhares bem seus
semblantes”,
Veras, escrito, em letras
claras:
Creio na tua Umbanda, nos
teus caboclos,
E no teu Zâmbi, mas somente se.
Vencerem o “mau caso”
Ou me curarem “disso”
Ou “daquilo”...
“A sexta lagrima eu dei aos
fúteis, aos”.
Que andam de tenda em
tenda...
Não acreditam em nada,
Buscam apenas o aconchego e
os conchavos...
“Seus olhos apresentam um
interesse diferente.”
“Sei bem o que eles
querem...”.
“E a sétimas, filho meu,
notaste como foi”.
Grande e deslizou pesada?”“
“Foi a ultima lagrima,
aquela que vive nos olhos”.
“De todos os Orixás.”
“Fiz doação dessa aos
vaidosos cheios”.
De empáfia, para que lavem
sua máscaras.
E todos possam vê-los com
realmente são:
Cegos, guias de cegos;
Andam se exibindo com a
“banda”
Tal qual mariposas em trono
das luz,
“Essa mesma luz que eles não
conseguem ver...”.
“Olha-os bem; vê como suas
fisionomias”.
São turvas e desconfiadas...
Observa-os quando falam
doutrinando.
Sua vozes são ocas, dizem tudo.
De “cor e salteado...”.
“Em sua linguagem sem
calor”,
Cantam loas aos nossos guias
e protetores;
Formulam conceitos e
caridade,
Essa mesma caridade que não
fazem...
Vivem aferrados ao conforto
da matéria
E a gula do vil metal...
“Eles não têm convicção.”
“Assim, filho meu, foi,
para”.
Esses todos que viste cair,
“Uma a uma, as sete lágrimas
de Pai-Preto.”
E, então, com minha alma em
pranto,
Tornei a perguntar:
Não tens mais nada a dizer,
Pai-Preto?
E, daquela “forma velha”, vi
um véu.
Caindo num clarão intenso
Que ofuscava tanto,
Ouvi mais uma vez:
“Mando a luz da minha
transfiguração”.
Para aqueles que,
esquecidos,
“Pensam que estão...”.
“Eles formam a maior parte”.
Dessas multidões...
São humildes, os simples.
E estão na Umbanda pela
Umbanda,
Na confiança pela razão...
São os seus filhos de fé...
São, também, os “aparelhos”.
Trabalhadores e silenciosos,
Cujas ferramentas chamam-se
dom e fé
E cujo salário de cada noite
É pago quase sempre com uma
só moeda
Que traduz o seu valor
“Em uma só palavra:
Ingratidão.”