Foto: Falamais |
1. Biografia
Miguel Ferreira Neto nasceu em Maranguape, município do estado do Ceará, em 1959. Foi criado nos princípios religiosos de raiz afro-indígena, Umbanda. Na adolescência trabalhou como peão na fabricação de cachaça, depois foi trabalhar montando engenhos e alambiques no interior do estado. Para cuidar de sua mediunidade, sua avó o enviou para São Luís do Maranhão, onde se preparou para ser sacerdote de Umbanda.
Em 1979, casou-se e veio morar na região do Grande Bom Jardim. No dia 08 de dezembro de 1982, ele recebe autorização para abrir salão (terreiro) na casa de Mãe Francisca pelo caboclo Mariano Légua. Retorna ao Ceará em 29 de dezembro de 1982.
Em 1983, no dia 05 de maio, abriu o salão (terreiro) Centro Espírita de Umbanda São Miguel. Nesse mesmo ano, fez a primeira Festa de Iemanjá saindo do bairro em um caminhão pau-de-arara rumo à Praia do Futuro. Em 1986, mudou-se para o atual endereço: Rua Medellín, n° 2916, Bairro Granja Lisboa.
Ao longo de sua jornada na Umbanda, Pai Neto se aperfeiçoou nos saberes referentes à Umbanda e suas ramificações. Seus saberes são: Cruzo, Batismo, Casamento, Acruzamento (extrema unção), tambor de choro (in memorian), benzedura (curas), garrafadas medicinais, curimbas (cânticos), também conhecido como pontos cantados, pontos riscados. Desenvolve ainda a técnica de construção de tambores de aço e de madeira (luthiaria), maracás e cabeças, triângulo, agogô, ferros de assentamento.
Na década de 1990, Pai Neto presenciou momentos importantes da história de seu bairro, como a implantação da escola municipal Rachel Viana Martins, da escola municipal João Mendes, da ocupação do Conjunto Palmares, do posto de saúde Dom Lustosa, do calçamento e asfalto de várias ruas e avenidas e da comunidade Santa Paula Frassinetti, cuja luta foi fomentada e proposta por ele. Aliás, outras conquistas também tiveram sua participação ativa, como a edificação do colégio CAIC-Maria Alves Carioca. São várias, portanto, as recordações desse guardião da memória.
Em 1997, Pai Neto, como é mais conhecido, liderou o processo de criação da AEUSM Associação Espírita de Umbanda São Miguel e tornou-se presidente da entidade. Atualmente agrega 128 associados.
Em 2003, Pai Neto, representando a AEUSM, passou compor a REDE DLIS – Rede de Desenvolvimento Local, Integral e Sustentável, conjunto de organizações sociais que alavanca lutas sociais em prol da região.
Em 2005, participou pela primeira vez da organização da Festa de Iemanjá em Fortaleza, inclusive como captador de recursos e apoios nos órgãos governamentais, onde obteve êxito.
Em 2009, tornou-se conselheiro do Conselho Gestor do Ponto de Memória do Grande Bom Jardim, participando de todas as atividades desse museu comunitário, inclusive o acompanhamento da realização de inventário participativo das referências culturais da região.
Em 2012, foi considerado Guardião da Memória da região do Grande Bom Jardim por pesquisadores e moradores do Ponto de Memória.
Em 2013, tornou-se organizador proponente da Festa de Iemanjá do aterro da Praia de Iracema de Fortaleza, que ocorre todo ano nos dias 14 e 15 de agosto.
Em 2015, foi eleito por voto popular membro titular do Conselho Nacional de Políticas Culturais, na seção Patrimônio Imaterial. Em 2015 também teve sua história de relação com a região onde mora, o Grande Bom Jardim, publicada na Coleção Pajeú - Bom Jardim, fomentada pela Secultfor e escrita por José Mapurunga.
Em 2017, Pai Neto, representado a AEUSM- Associação Espírita de Umbanda São Miguel, toma posse no Conselho Estadual de Direitos Humanos, representando religiões tradicionais de matrizes afro-brasileiras.
Pai Neto é um tronco velho da tradição tambor de mina de caboclo, uma manifestação religiosa, dentro do universo das religiões de matrizes africanas, identificada como uma vertente da Umbanda. Nesse sentido, ele resguarda, preserva e repassa para seus filhos e filhas de santo saberes dessa religião de tradição de matriz afro-brasileira. Criados em seus saberes, Pai Neto possui dez filhos com obrigações cumpridas com assentamentos sagrados instalados (terreiros abertos), a saber: Maria do Zé Pilintra, Mãe Irene, Wilson do Lírio Verde, Paulo da Tapuia Velha, Fátima de Obaluaê, Ribamar da Cabocla Jacira, Ismael do Nego Gerson, Carlos Alberto do Rei Urubu, Eliane da Mãe Maria, Adriana da Princesa Rosa Branca. Além desses, existem ainda os filhos e filhas que têm assentamento sagrado, mas não possuem terreiros abertos, que junto aos que possuem terreiros abertos somam sessenta e três.
Por tudo isso, em dezembro de 2022 o Governo do Estado do Ceará conferiu ao Pai Neto Trancarua o título de Mestre da Cultura Tradicional Popular, mediante notório saber, experiências e vivências como defensor, incentivador e praticante da umbanda sagrada e também o Título de Doutor pela UECE.
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